sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sociedade

Autarcas acusam Secretaria do Ambiente de colocarem em causa sobrevivência de populações do Parque Natural das Serras D´Aire e Candeeiros
O presidente da Câmara de Santarém e o secretário-geral da Associação Nacional de Municípios criticaram os "burocratas" da secretaria de Estado do Ambiente por despachos que, asseguraram, põem em causa a sobrevivência das populações das serras d'Aire e Candeeiros.
Falando na apresentação do Manual da Calçada Portuguesa, feita quinta-feira em Santarém perante alguns exploradores de pedra de calçada, Francisco Moita Flores e Artur Trindade asseguraram estar na "linha da frente" do combate contra os "radicais ambientalistas" que estão a pôr em causa a sobrevivência de "milhares de famílias".
"A nossa secretaria de Estado do Ambiente foi tomada de assalto por este tipo de cretinos e imbecis, que fazem despachos que nos deixam completamente fora de nós", disse Moita Flores, criticando o "caciquismo beato instalado nas instâncias de decisão ambiental" e que são "os primeiros inimigos do próprio Governo" em matéria de políticas ambientais.
As críticas à secretaria de Estado do Ambiente surgiram no âmbito do Plano de Ordenamento do Parque Natural das Serras d'Aire e Candeeiros, onde se localiza a esmagadora maioria de explorações de pedra de calçada do país.
Em causa está, nomeadamente, a proposta que exclui Alqueidão da Serra (concelho de Porto de Mós) e Casal de Valventos (concelho de Alcobaça) das zonas extractivas, impossibilitando a exploração da pedra de calçada preta e da laje rústica.
"Como é possível interditar as zonas de pedra escura? Vão escavar no Terreiro do Paço?", interrogou Artur Trindade, ex-presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós e actual secretário-geral da ANMP, frisando não acreditar que as propostas apresentadas "tenham fundamentação científica".
Para o presidente da Associação de Exploradores de Calçada à Portuguesa (AECP), João Paulo Gonçalves, a actividade ilustrada no manual apresentado em Santarém corresponde a uma "arte centenária", parte "integrante da cultura [portuguesa], que deve ser mantida em prol de uma identidade que se vai perdendo" e como forma de atracção turística e fonte de rendimento para o país, nomeadamente pela exportação.
No seu entender, o manual, editado por um organismo estatal, a Direcção-Geral de Energia e Geologia, representa "um avanço" na defesa da actividade, mas apelou ao esforço dos políticos, nomeadamente dos autarcas, para a preservação da calçada portuguesa.
Carlos Caxaria, sub-director-geral de Energia e Geologia, justificou a edição do livro com a necessidade de "ensinar" as origens da calçada à portuguesa e alertar para a necessidade de preservar as reservas, de forma a garantir que o país continuará a ter no futuro matéria-prima para a realização deste tipo de trabalho.
O livro inclui uma versão em inglês, de forma a poder ser "um embaixador deste trabalho tão português", frisou.
*Lusa
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