domingo, 13 de dezembro de 2009

Sociedade

Misericórdias do Ribatejo reuniram-se em Abrantes e anunciam “tempos muito difíceis”
Os responsáveis das Misericórdias do Ribatejo anunciaram ontem “tempos muito difíceis" devido a passivos de centenas de milhares de euros, tendo reclamado por “maior sensibilidade” por parte das entidades locais e estatais.
O I Encontro das Misericórdias do Ribatejo, que juntou em Abrantes representantes de nove das 22 Misericórdias existentes, apresentava como objectivos a angariação de fundos para o Lar de Infância e Juventude (LIJ), que acolhe raparigas órfãs ou provenientes de famílias desestruturadas, e “debater as dificuldades e problemas comuns” às várias entidades.
Alberto Margarido, vice-provedor da Misericórdia de Abrantes, disse à agência Lusa que a situação “torna-se insustentável” quando as contas do LIJ, em 2008, deram 104 mil euros de prejuízo e quando a instituição apresenta “globalmente” resultados negativos anuais na ordem dos 300 mil euros.
“Só nesta valência do LIJ, que funciona 24 horas ao dia e tem 14 funcionários e 26 raparigas entre os onze e os 20 anos a seu cargo, apresentámos resultados negativos desta monta e a própria casa de acolhimento já não apresenta condições dignas de habitabilidade”, avançou.
“Como é que vamos arranjar 40 mil euros para as obras de requalificação, tão necessárias para que estas jovens possam crescer e viver com o mínimo de condições?”, questionou o responsável, que “apelou” a uma “maior sensibilidade por parte dos responsáveis locais e nacionais”.
Manuel Paulo, em representação da Misericórdia de Vila Nova da Barquinha, afirmou à Lusa que as contas na instituição que representa “só se mantêm equilibradas graças a uma grande ginástica financeira”, tendo reclamado por uma “discriminação pela positiva” por parte das câmaras municipais.
“A maior parte dos idosos que acolhemos são pessoas pobres e com reformas na casa dos 200 euros”, disse, acrescentando ter 150 pessoas em lista de espera para uma instituição com 37 camas.
“Só recorrendo à venda de património” se conseguem apresentar contas “sem lucros mas também sem prejuízos”, afirmou, tendo acrescentado que “com reformas que não chegam para cobrir as despesas, as autarquias podiam ajudar mais, discriminando positivamente nas contas da água, da luz ou do gás, por exemplo”.
Uma posição partilhada por Vasco Estrela, provedor da Misericórdia de Mação, que reclamou por “novas medidas que permitam ajudar os mais desfavorecidos e, como tal, o importante trabalho desenvolvido” pelas próprias Misericórdias.
Segundo disse à Lusa, a instituição que dirige vai apresentar 11 mil euros positivos no final deste ano, “números irrisórios e extremamente voláteis”, apesar da valência de creche apresentar resultados negativos “na ordem dos 100 mil euros”.
“A legislação evoluiu favoravelmente e hoje permite-nos receber o correspondente ao serviço prestado. O problema é que as pessoas não têm posses para pagar o serviço na íntegra”, referiu.
Para o vice-provedor da Misericórdia de Abrantes, as preocupações “são mais que muitas” e, segundo disse, além de procurar apoio material e financeiro para a requalificação do Lar de Infância, procura também 70 mil euros para pagar os subsídios de Natal aos seus funcionários.
*Lusa
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