quarta-feira, 10 de março de 2010

Economia

Excesso de água em terrenos do Ribatejo cria problemas graves aos agricultores
O director executivo da Torriba, Organização de Produtores de Hortícolas, Gonçalo Escudeiro, esfrega nas mãos as batatas apodrecidas pelo excesso de água que empapou os terrenos do Ribatejo, inviabilizando grande parte das culturas de outono/inverno.
"Estamos realmente perante um problema muito grave porque atingimos há muito tempo o nível máximo de saturação das terras, o que fez com que as batatas de semente começassem a apodrecer", disse à agência Lusa.
O cenário do batatal nos campos junto a Salvaterra de Magos repete-se em hectares de plantações de cenouras e ervilhas na região, a juntar ao atraso na preparação dos terrenos para receberem as plantas de tomateiro na zona de onde sai a maior parte da produção nacional de tomate com destino à indústria.
"As condições do tempo nos últimos dois meses não permitem entrar no solo para fazer as instalações de forma a cumprirmos todos os compromissos com o mercado e com os clientes finais que esperam os nossos produtos", disse Gonçalo Escudeiro.
Além das perdas por podridão das sementes e asfixia radicular, devido ao excessivo encharcamento dos solos, também a qualidade da semente que espera em armazém oportunidade para ser instalada está a ser afectada, devido à desidratação com consequente redução do potencial produtivo, sublinha igualmente a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) num comunicado que fez chegar a várias entidades.
As consequências do tempo afectaram ainda estufas de culturas de morango e framboesa, queixando-se a Organização de Produtores de Pequenos Frutos (Lusomorango) de que os ventos fortes registados a 27 de Fevereiro provocaram estragos nas estruturas nas regiões de Almeirim, Cantanhede, Zambujeira do Mar e Sines.
Gonçalo Andrade, da Lusomorango, disse à Lusa que parte da produção foi igualmente afectada pelas fortes chuvadas, o que irá ter repercussões no cumprimento dos contratos, sendo este um sector que aposta forte na exportação.
O director executivo da Torriba, organização que congrega 110 produtores, afirmou que os prejuízos na produção de hortofrutícolas no Ribatejo variam de parcela para parcela, algumas com perda total.
Gonçalo Escudeiro sublinhou que os produtores estão cansados da ideia de que, ao mínimo capricho do tempo, estão à espera dos "subsídios", frisando que "há anos" reclamam por alterações ao Sistema Integrado Contra Aleatoridades Climáticas (SIPAC), de forma a que o seguro de colheita sirva de facto para salvaguardar situações como a que agora se vive, ajustando-se à realidade.
"Infelizmente, nos últimos cinco anos tem vindo a haver um grande desacreditar da nossa produção nos seguros, porque estão completamente desajustados face à realidade e sempre que há um problema é difícil sentir que as seguradoras estão ao nosso lado", afirmou.
Acreditando haver actualmente "abertura do Ministério da Agricultura para alterar os seguros de colheita", Gonçalo Escudeiro lamenta que não venha a tempo para ajudar os produtores agora em dificuldades.
O apelo, disse, é no sentido de que estes produtores, sem qualquer hipótese de recuperarem o investimento feito em sementes, adubo, estrume, possam ter acesso a prolongamentos dos créditos a que recorreram ou a créditos bonificados.
------------------------------------------------------------