domingo, 23 de janeiro de 2011

Política

Maioria dos eleitores da freguesia do Granho determinados a não votarem
Zangados com a falta de médico na freguesia, os habitantes do Granho, Salvaterra de Magos, concentraram-se hoje frente à escola primária, determinados a protestar não votando.
A mesa de voto abriu e os três votantes que, até ao meio-dia, decidiram exercer o direito de voto não foram impedidos de entrar, mas tiveram de ouvir a indignação de quem estava à porta.
“São ricos, podem pagar o médico particular”, desabafou uma das moradoras, enquanto outros gritavam o seu protesto contra “quem não precisa” do posto a funcionar.
O posto de saúde do Granho, construído há 30 anos em terrenos dados pela população, e alvo de obras em 2007, segundo o presidente da junta de freguesia, Joaquim Ventura, está sem médico e sem enfermeira desde Outubro.
Apesar das garantias da coordenadora do Agrupamento de Centros de Saúde de que está à procura de uma solução, a população acredita que a intenção é fechar, até porque a funcionária que vem às quartas-feiras “buscar as receitas” terá recebido ordens para deixar de vir a partir de 01 de Fevereiro, disse Joaquim Ventura à agência Lusa.
“A malta está aqui para protestar não contra o voto, mas sim para mostrar o seu desagrado pelo posto médico que nos estão a roubar”, afirmou, sublinhando que os “papéizinhos” a apelar à abstenção foram colocados nas caixas do correio na noite de segunda para terça-feira.
Isabel Santos, viúva, não arreda da entrada do portão da escola.
“Tenho uma filha deficiente. Ela precisa de médico e não apanho”, disse à Lusa, sublinhando que os 200 euros que ganha não chegam para pagar os 70 a 75 euros de consulta de um médico particular.
Isabel espera que o protesto de hoje ajude a resolver um problema para o qual não encontra solução, já que garante que não consegue arranjar consulta.
Segundo Joaquim Ventura, a alternativa dada à população - a ida ao posto da Glória do Ribatejo, a cerca de 12 quilómetros, das 14:00 às 15:00 às quintas-feiras – não tem funcionado.
“Em quatro meses só houve cinco consultas. Outros vão e vêm e não apanham consulta”, assegurou.
Custódio Jesus Coelho colocou no vidro da sua carrinha o protesto pelas oito horas de espera por uma consulta no hospital de Santarém, devido a uma cólica renal, que terá ficado sem resposta.
Com um cartaz colado nas costas – “Sem médico de família não votamos” -, anima os que vão resistindo ao frio e não arredam pé.
Junto à carrinha montou uma mesa e assadores, enquanto outros fizeram uma fogueira para irem aquecendo os pés.
“A gente não estamos zangados aqui com as eleições. Apenas discordamos de não ter médico na terra, que é o mais triste”, afirmou.
Espalhados pela vedação da escola, junto à igreja, que fica mesmo ao lado, e no posto de saúde, foram colocados cartazes que demonstram o descontentamento da população.
“Não temos saúde para votar” ou “A crise não é desculpa para tudo. Queremos médico de família”, são as frases de protesto, estando a extensão de saúde assinalada com panos pretos.
*Lusa
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