Fernando Rosas participou em Santarém na conferência “Porque venceu e porque caiu a República”
O historiador Fernando Rosas defendeu ontem em Santarém que a I República não foi derrubada pelo movimento militar de 28 de Maio de 1926, tendo prosseguido, até 1938, com uma "luta violentíssima que provocou milhares de vítimas".
Falando na conferência "Porque venceu e porque caiu a I República", promovida pela Câmara Municipal de Santarém, no âmbito das comemorações do centenário da implantação da República, Fernando Rosas sublinhou que os movimentos que culminaram no "Reviralho" foram ignorados tanto pela história do Estado Novo como pela do Partido Comunista.
"A historiografia recente tem estado a recuperar a memória desses movimentos", disse, sublinhando que dessas lutas resultaram "milhares de vítimas, entre mortos, feridos e deportados".
"As comemorações (do centenário da República) devem olhar criticamente sobre porque venceu e se perdeu a I República e tirar da sombra homens que se bateram e morreram sem ver a liberdade de 1974", afirmou, numa sessão que reuniu algumas dezenas de pessoas terça feira à noite na Biblioteca Municipal de Santarém.
O historiador apontou como causas para a "derrota" da I República a falta de apoio daqueles que o regime permitiu que continuassem fora do sistema político - como as mulheres e a massa de população rural pobre e analfabeta.
Ao monopolizar o poder, o Partido Republicano "deixou a porta aberta para a instabilidade política" e para a ideia de que o regime só era derrubável através de um golpe militar, afirmou.
Por outro lado, a "perseguição e abuso ao criar uma espécie de tutela neo-regalista" sobre a Igreja permitiu que esta mobilizasse contra a República grande parte do mundo rural, "agravando o isolamento social e político" do regime.
Também a base de apoio na cidade foi cortada pela ausência de reformas e medidas de âmbito social, originando greves e movimentos reivindicativos, a que o regime respondeu "com uma violência brutal", criando tribunais de exceção e procedendo a deportações sem julgamento para Timor, Angola, Cabo Verde, acrescentou.
Fernando Rosas apelidou de "suicidária aventura" a participação na I Grande Guerra, a mais moderna e sofisticada até à data, para onde os republicanos "empurraram um povo 70 por cento analfabeto" para morrer por uma causa que não conheciam, gerando uma "impopularidade gigantesca" ao movimento republicano.
A fome e a doença que devastaram o país nesse período, aliadas ao "buraco económico e financeiro de que a República jamais se levantou", contribuíram ainda mais para essa impopularidade, levando a própria esquerda democrática a apoiar o golpe de 28 de Maio, acrescentou.
Fernando Rosas explicou ainda a base popular de apoio ao Partido Republicano no sul do distrito de Santarém e no vale do Douro pelo espírito empreendedor, modernista e cosmopolita dos vinhateiros abastados, exemplificando com as multidões mobilizadas por José Relvas e Anselmo Braamcamp Freire (em cuja casa se situa hoje a Biblioteca Municipal de Santarém).
"O fenómeno do republicanismo rural é um bom tema para uma tese de mestrado", desafiou.
O historiador Fernando Rosas defendeu ontem em Santarém que a I República não foi derrubada pelo movimento militar de 28 de Maio de 1926, tendo prosseguido, até 1938, com uma "luta violentíssima que provocou milhares de vítimas".
Falando na conferência "Porque venceu e porque caiu a I República", promovida pela Câmara Municipal de Santarém, no âmbito das comemorações do centenário da implantação da República, Fernando Rosas sublinhou que os movimentos que culminaram no "Reviralho" foram ignorados tanto pela história do Estado Novo como pela do Partido Comunista.
"A historiografia recente tem estado a recuperar a memória desses movimentos", disse, sublinhando que dessas lutas resultaram "milhares de vítimas, entre mortos, feridos e deportados".
"As comemorações (do centenário da República) devem olhar criticamente sobre porque venceu e se perdeu a I República e tirar da sombra homens que se bateram e morreram sem ver a liberdade de 1974", afirmou, numa sessão que reuniu algumas dezenas de pessoas terça feira à noite na Biblioteca Municipal de Santarém.
O historiador apontou como causas para a "derrota" da I República a falta de apoio daqueles que o regime permitiu que continuassem fora do sistema político - como as mulheres e a massa de população rural pobre e analfabeta.
Ao monopolizar o poder, o Partido Republicano "deixou a porta aberta para a instabilidade política" e para a ideia de que o regime só era derrubável através de um golpe militar, afirmou.
Por outro lado, a "perseguição e abuso ao criar uma espécie de tutela neo-regalista" sobre a Igreja permitiu que esta mobilizasse contra a República grande parte do mundo rural, "agravando o isolamento social e político" do regime.
Também a base de apoio na cidade foi cortada pela ausência de reformas e medidas de âmbito social, originando greves e movimentos reivindicativos, a que o regime respondeu "com uma violência brutal", criando tribunais de exceção e procedendo a deportações sem julgamento para Timor, Angola, Cabo Verde, acrescentou.
Fernando Rosas apelidou de "suicidária aventura" a participação na I Grande Guerra, a mais moderna e sofisticada até à data, para onde os republicanos "empurraram um povo 70 por cento analfabeto" para morrer por uma causa que não conheciam, gerando uma "impopularidade gigantesca" ao movimento republicano.
A fome e a doença que devastaram o país nesse período, aliadas ao "buraco económico e financeiro de que a República jamais se levantou", contribuíram ainda mais para essa impopularidade, levando a própria esquerda democrática a apoiar o golpe de 28 de Maio, acrescentou.
Fernando Rosas explicou ainda a base popular de apoio ao Partido Republicano no sul do distrito de Santarém e no vale do Douro pelo espírito empreendedor, modernista e cosmopolita dos vinhateiros abastados, exemplificando com as multidões mobilizadas por José Relvas e Anselmo Braamcamp Freire (em cuja casa se situa hoje a Biblioteca Municipal de Santarém).
"O fenómeno do republicanismo rural é um bom tema para uma tese de mestrado", desafiou.
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