sábado, 7 de agosto de 2010

Sociedade

Desempregados do concelho de Rio Maior procuram no sal uma nova oportunidade de trabalho
Dezasseis desempregados do concelho de Rio Maior procuram no sal uma nova oportunidade de trabalho, num curso com equivalência ao nono ano que lhes dará competências para recuperar salinas tradicionais e inovar nos produtos.
Aproveitando a presença no concelho das únicas salinas que se situam no interior do país, a Cooperativa Terra Chã, no âmbito da aposta na valorização dos produtos locais, lançou-se na realização de um curso de educação e formação de adultos que visa a criação de emprego e de produtos que promovam o desenvolvimento local.
“Estamos a tentar conjugar a vertente da produção artesanal de sal com a componente do turismo”, disse à agência Lusa Júlio Ricardo, dirigente da Terra Chã.
O curso, que se iniciou no passado dia 14 de Junho e tem a duração de um ano, permitiu já introduzir uma inovação nas marinhas de Rio Maior, a recolha de flor do sal, tendo os formandos começado igualmente a misturar o sal com plantas aromáticas e condimentares recolhidas nas serras d’Aire e Candeeiros.
“Queremos ver se há viabilidade desses produtos no mercado”, sublinhou.
José João Rodrigues, responsável pela formação e ele próprio salineiro em Aveiro, onde recebeu um prémio de inovação, acredita que a salinicultura tradicional tem futuro se os que mantêm a tradição souberem “associar criatividade e inovação, respondendo às novas formas de encarar o consumo”.
A sua expectativa é que os 16 formandos, na sua grande maioria mulheres, sejam capazes, no final do curso, de constituírem pequenas actividades, “umas directamente ligadas ao sal, outras à produção de ervas condimentadas, outras à comercialização e distribuição pelo país, outras à área do marketing, ao design, à concepção de embalagens, à restauração”.
“Existe uma miríade de possibilidades em torno desta actividade, que não é estritamente tirar e vender o sal”, sublinhou, apontando os pequenos negócios de restauração e venda de produtos que ao longo dos anos se foram instalando nas pequenas casas de madeira que ladeiam a estrada junto às salinas.
Além das competências alargadas que o curso visa dar aos formandos, a iniciativa, que a Terra Chã desenvolve em parceria com a Associação de Artesãos das Serras d’Aire e Candeeiros, inclui uma componente de recuperação das salinas.
A aprendizagem está a decorrer nos talhões alugados a seis salineiros, que viram já recuperadas as eiras onde o sal, depois de recolhido, seca, e algumas das casas tradicionais, como aquela onde funciona a vertente tecnológica do curso e que no futuro poderá vir a acolher um restaurante/bar com esplanada.
Outras casas tradicionais estão a ser recuperadas para armazenagem do sal, num esforço de valorização de um espaço “que é bonito e atrai bastantes turistas”.
Durante esta semana, os formandos realizaram ainda uma campanha de limpeza das salinas, outro contributo para a melhoria da qualidade do sal de Rio Maior, afirmou Júlio Ricardo.
Deonilde Camões, uma das formandas, desempregada há um ano depois de ter trabalhado numa “firma de toldos”, escolheu o curso à alternativa de trabalhar “nas carnes” e não se arrepende.
“Gostava, quando acabasse o nono ano, de ficar aqui mesmo a trabalhar. É divertido, é diferente”, disse à Lusa.
****************************************************************************