sábado, 14 de agosto de 2010

Ambiente

Militares da GNR têm formação específica para descobrir no terreno origem dos incêndios
São indícios que passam despercebidos à maioria, mas que não escapam aos homens que na GNR se dedicam a investigar o que esteve na origem de um incêndio, permitindo determinar se as causas foram naturais, por negligência ou dolosas.
O cabo José Mendes é um dos três militares do destacamento territorial da GNR de Tomar que recebeu formação para, quando há um incêndio, ir à procura do local da “ignição” e, munido com os conhecimentos recebidos no curso de três semanas que frequentou nas instalações da Autoridade Florestal Nacional (AFN), em Mirandela, procurar os vestígios que o vão ajudar a perceber o que esteve na sua origem.
“A frente do incêndio não nos interessa. Olhamos a direcção do vento e perguntamos de onde ele vem. Aí, pela vegetação ardida, conseguimos avaliar qual o sentido da progressão”, disse à agência Lusa.
Contando com a colaboração dos bombeiros, sensibilizados para não inundarem o ponto de início do incêndio, os homens da GNR, chamados por brincadeira entre os camaradas de “militares CSI”, identificam o ponto de início pela cor banca das cinzas, em contraponto ao preto do que é queimado pelo avanço das chamas.
“Neste caso – um dos quatro incêndios que na tarde do domingo 18 de Julho deflagraram na área de intervenção da GNR de Tomar – foi provocado pelos fios eléctricos que dilataram e ao tocarem provocaram faísca”, afirma, apontando o ponto de início do fogo que rondou oliveiras e queimou mato.
São os “segredos” que aprenderam com os formadores da AFN e da Polícia Judiciária que permitem a estes homens do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR recolher indícios e informações que, no caso de origem dolosa, são cruciais para a investigação de âmbito criminal que passa para a alçada da PJ.
“Avaliamos as condições do terreno, recolhemos informação junto dos bombeiros que chegaram primeiro, das pessoas que moram perto, dos agricultores e madeireiros que andam nas imediações e toda essa informação junta é que nos dá o método para poder investigar, para poder chegar a uma causa”, disse o cabo Mendes à Lusa.
O comandante do destacamento de Tomar da GNR, capitão Duarte da Graça, realça a articulação existente entre as várias entidades, sublinhando as “boas relações institucionais e informais”.
O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios, criado em 2006, deu à GNR “um papel decisivo”, nomeadamente na detecção, vigilância e determinação das causas de incêndio, além do apoio dado durante o combate, frisou.
Dadas as características do terreno abrangido pelo destacamento – com vastas áreas de floresta e a imensidão da albufeira da barragem de Castelo do Bode -, a GNR de Tomar conta com vários meios terrestres para vigilância (veículos ligeiros e todo o terreno e motas e cavalos para os locais onde os outros não chegam), que complementam o trabalho que 20 antigos guardas florestais asseguram nas cinco torres de vigia existentes.
Uma embarcação permite ainda garantir a segurança quando aviões de grande porte precisam abastecer de água na barragem, afastando todas as embarcações e pessoas no “corredor” usado pelas aeronaves.
----------------------------------------------------------------------------------