domingo, 8 de maio de 2011

Cultura

Fundação Passos Canavarro abre Casa Museu em Santarém
Entra-se num acolhedor jardim romântico e é a própria família que recebe quem queira conhecer uma casa, na zona nobre de Santarém, repleta de história e de arte, imortalizada nas “Viagens na Minha Terra”, de Almeida Garrett.
Amigo de Passos Manuel, que adquiriu a casa na alcáçova de Santarém em 1841, o escritor pernoitou no quarto onde nasceu e onde ainda hoje dorme o presidente da Fundação Passos Canavarro – Arte Ciência e Democracia, Pedro Canavarro, trineto daquele que foi um dos vultos mais proeminentes das primeiras décadas do liberalismo português.
“Quisemos transformar este espaço numa Casa Museu - como tal, aberta ao público - e, o nosso maior desejo, participada, activa, dinâmica”, disse Pedro Canavarro, numa apresentação do espaço, que abre no próximo dia 17, de terça-feira a domingo e com possibilidade de visitas guiadas às 11:00 e às 15:00.
Licenciado em História e Museologia, professor universitário em Portugal e no Japão, comissário geral da XVII Exposição do Conselho da Europa sobre os Descobrimentos Portugueses, com passagem pela política (chegou a ser eleito para o Parlamento Europeu), Pedro Canavarro transforma a visita à casa, onde vive com o filho e a nora, numa lição de história e de arte.
A Casa Museu foi construída sobre três vectores principais – o histórico, associado ao passado real do lugar (a alcáçova foi o paço de D. Afonso Henriques), o político, marcado pelo legado de Passos Manuel na primeira metade do século XIX (com reformas na educação e na administração, nomeadamente), o literário, imortalizado no livro que Almeida Garrett escreveu em 1846, retratando a guerra entre absolutistas e liberais.
Não oferece, contudo, um “quadro estático”, ao enquadrar no espaço o que resultou da união das famílias Passos e Canavarro e, sobretudo, o percurso de Pedro Canavarro, presente na preocupação de “partir para o mundo sabendo de onde se parte e onde se pode regressar”.
É aqui que estão as marcas da sua passagem por várias partes do mundo - com evidência para o Japão, onde foi leitor de português (de 1966 a 1968) e a cuja cultura se rendeu – e das amizades que cimentou com várias personalidades das artes e da cultura.
Foi assim que a artista plástica de origem francesa Mimi Fogt, falecida em 2005, doou à Fundação Passos Canavarro a colecção de Retratos, Paisagens e Nus que vai ser possível ver na ala voltada para o Jardim das Portas do Sol que foi transformada em galeria de arte.
Também a viúva de Pedro de Sousa, Magda Pinheiro, doou quatro dezenas de xilogravuras do artista, agora expostas na “sala do piano”, onde convivem com peças de arte oriental.
“O que mais procuro com esta Casa Museu é que, não nos sentindo provincianos - porque também estamos, pelos materiais existentes, perspectivados, ao nível da arte e da cultura, para a globalização, tão importante no momento actual -, sabemos que tudo isto se situa num chão que também é nosso e portanto podemos voar porque sabemos donde partimos, podemos fazer aventura porque sabemos aonde regressar”, frisou.
A imagem que melhor exemplifica este princípio é mostrada por Pedro Canavarro do pátio onde Garrett se maravilhou com a paisagem do Tejo e da vasta Lezíria, o lugar onde o rio se apresenta de frente para quem o olha, num convite à partida, à aventura contra uma corrente que tem que vencer e que inevitavelmente o trará de volta.
*Lusa
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