segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Saúde

Autarcas de Abrantes e Sardoal estão preocupados com falta de médicos
A falta de médicos de clínica geral está a preocupar os autarcas de Abrantes e de Sardoal, que consideram a situação “dramática” e afirmam que, em termos de acesso a cuidados médicos de saúde primários, “pior não é possível”.
No concelho de Abrantes, com 19 freguesias e perto de 42 mil habitantes, dos 30 médicos de família previstos apenas 11 estão ao serviço. No vizinho concelho de Sardoal, com quatro freguesias e onde habitam cerca de 4.000 pessoas, a população está sem um único dos três médicos de clínica geral que ali deveriam prestar cuidados de saúde.
Sem acesso directo a cuidados de saúde primários e com uma população envelhecida, à comunidade de Sardoal resta a alternativa de recorrer ao Centro de Saúde de Abrantes, a cerca de 20 quilómetros, e também ele com problemas na prestação de serviços médicos à sua população.
A utente Rosa Ramos, de 54 anos, disse à Lusa que o problema “é grave”, lembrado que no centro de saúde de Sardoal, desde o final de 2010, “presta-se apenas o serviço de receituário e de enfermagem”.
Segundo esta residente, a alternativa mais próxima é em Abrantes, alertando, no entanto, que, na falta de transportes públicos, uma deslocação implica ter viatura própria ou alugar um táxi, o que “não é fácil” para as pessoas mais idosas.
Já José Faria, de 63 anos, considera que as gentes de Sardoal estão a viver uma tragédia.
“As pessoas têm de ir para Abrantes, mas lá parece que também não há médicos. É uma tragédia, porque custa muito dinheiro, mas se eu tiver de recorrer a um médico se calhar terei de ir a Lisboa”, afirmou.
Miguel Borges, vice-presidente da Câmara Municipal de Sardoal, disse à Lusa que o concelho “bateu no fundo” em termos de prestação de cuidados médicos, acrescentando que “pior não é possível”.
De acordo com o autarca, “nem os três profissionais de saúde previstos para servir a população seriam suficientes”, tendo em conta o seu envelhecimento e a necessidade de outro tipo de cuidados, como os de saúde mental.
Para a presidente da Câmara de Abrantes, Maria do Céu Albuquerque, a situação é “dramática”.
Esta autarca disse à agência Lusa estar na expetativa da chegada de médicos oriundos de países sul-americanos para minimizar as lacunas existentes.
Enquanto isso, a autarca disse que vai investir este ano na aquisição de duas unidades móveis de saúde para chegar às populações mais isoladas.
Por seu turno, Manuel Soares, porta-voz da Comissão de Utentes da Saúde do Médio Tejo (CUSMT), que abarca uma sub-região com 15 municípios e 180 mil pessoas, defendeu a criação de “medidas de excepção”, nem que isso implique o recurso à contratação de médicos estrangeiros.
“Para situações extraordinárias, medidas extraordinárias”, vincou.
Fernando Siborro, diretor executivo do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Zêzere, disse à Lusa que é “impossível solucionar a questão”, porque “os [médicos] que deixaram de trabalhar por motivos de serviço, de aposentações e de saúde, não têm quem os substitua”.
Segundo este responsável, “anunciam-se dias mais difíceis, porque há muitos médicos que se vão reformar nos próximos tempos e não vai haver novos profissionais para os substituir a curto, ou mesmo médio prazo”.
*Lusa
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