sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cultura

Cidadão de Póvoa da Isenta idealiza “Museu do Campo”
Entra-se pelo portão da quinta e não há balcão para comprar bilhetes. O Museu do Campo é ainda um projecto em construção na residência de Fernando Peralta, na Póvoa da Isenta (Santarém), mas mereceu já a honra de um prémio.
A menção honrosa atribuída recentemente pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM) atraiu atenções para o museu idealizado por Fernando Peralta, cerca de mil peças, reunidas ao longo de anos, para contar o dia a dia da vida no campo.
“Foram a minha vida e são a minha sobrevivência. São o que me traz de pé, alegre e feliz”, disse à agência Lusa.
No dia em que, por razões de saúde, teve que encerrar a sua empresa de camionagem, Fernando Peralta, o homem que “tem gosto” em procurar tudo aquilo que tenha a ver com a vida no campo, pensou em começar a recuperar e a organizar o que tinha juntado durante anos.
Aproveitou o velho lagar e a velha destilaria, de que desistiu por causa das “burocracias”, desfez-se das “modernices” com que os havia equipado e repôs “tudo o que era antigo”, e foi nesse espaço e no pátio, que cobriu recentemente, que começou a organizar o seu museu.
“Tenho o inventário quase pronto. Talvez em Abril tenha isto posto – uma fotografia em cada peça e depois vai levar uma cantilena (verso)”, disse à Lusa, confessando que, embora “não seja uma pessoa de curso”, tem “uma história de vida começada a fazer”.
Entre as peças que mostra com orgulho incluem-se o tractor, cinzento, em que se sentou pela primeira vez, aos 11 anos, para começar a trabalhar, ou a carteira de madeira onde aprendeu as primeiras letras sob o olhar atento da mestra Julieta de Carvalho.
Está também a oficina de carpinteiro, que deixou intocada desde os tempos em que ainda começou a aprender esse ofício, a do ferrador e a do funileiro, que lhe foi deixada por um amigo.
Uma velha debulhadora, carros de bois, livros, balanças, fogareiros, alfaias agrícolas das mais diversas, objectos de uso diário, a velhinha Vespa na qual ainda se desloca, tractores, os dois que já recuperou e aqueles - um deles que foi da família dos duques de Bragança - em que anda a trabalhar.
“Tudo isto funciona”, assegura, pondo a trabalhar os motores da Vespa e dos tractores.
O prémio da APOM serviu de alento e reconhecimento, já que os apoios que esperava para tornar o espaço visitável e aberto ao público não chegaram, apesar de ir recebendo visitas, como as crianças de um jardim de infância próximo e os idosos de um centro de dia.
Esta semana, uma visita de representantes do Ministério da Agricultura abriu uma janela de esperança.
“São coisas em que tenho grande estima e amor”, rematou.
*Lusa
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