sábado, 19 de setembro de 2009

Ciência

Cientista Elvira Fortunato dá entrevista ao DN

Na edição deste sábado do Diário de Notícias, pode-se ler uma entrevista da cientista Elvira Fortunato, sobre os trabalhos científicos que tem desenvolvido com a sua equipa de investigadores.
Recorde-se, que Elvira Fortunato tem origens paternais da freguesia de Louriceira, concelho de Alcanena.
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Transístores de papel são eficientes, limpos e baratos

"Dá para recortar, para escrever, é reciclável e pode dobrar-se." enumera Elvira Fortunato, investigadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL), enquanto mostra o pedaço de papel que modificou juntamente com Rodrigo Martins e a sua equipa: um transístor feito com papel, sete mil vezes mais barato que os transístores convencionais e com a vantagem de ser amigo do ambiente. O Paper-e, como lhe chamam, deu aos investigadores o Green Project Award na categoria de Inovação e Desenvolvimento, entregue na passada terça-feira.
Depois de produzirem sensores de ADN a partir de uma impressora convencional e de criarem tecnologia transparente (ver texto secundário), o passo seguinte foi criar transístores feitos de papel. "Os convencionais, feitos de silício, são caros, partem-se, não podem ser dobrados e usam uma tecnologia que é prejudicial ao ambiente", explica Rodrigo Martins, engenheiro electrotécnico.
Pelo contrário, os transístores de papel asseguram a transmissão de informação com um isolante maleável, limpo e reciclável. "Já trabalhávamos com o papel como suporte. A ideia para os transístores surgiu daí. Costumávamos trabalhar com transístores em suportes de vidro ou plástico. Apostámos no papel, o que acabou por dar resultado", conta Elvira Fortunato, engenheira física e de materiais. A notícia da entrega do prémio correu depressa: todos dão os parabéns à dupla, o que faz Elvira recordar-se da altura em que escreveu o anúncio da sua descoberta: "Passado uns dias já toda a gente conhecia os transístores de papel e queria saber mais sobre os portugueses que os inventaram", diz orgulhosa. Até numa feira na longínqua Finlândia perguntaram pelo projecto, neste caso uma empresa de celulose do Brasil.
A vertente ambiental não foi descurada e foi até uma motivação para os cientistas. "Isto é electrónica verde. Os transístores podem ser reciclados, voltando ao ciclo da celulose. Os transístores normais são reciclados enviando-os para fábricas nos países pobres onde os trabalhadores raspam o silício à mão", conta Rodrigo, acrescentando que a sociedade é "consumista" e que não mantém os produtos muito tempo. "Há pessoas que trocam de telemóvel de ano a ano. Se as baterias no futuro forem de papel, facilita-se a reciclagem e é menos um problema para o ambiente."
Outro avanço feito pela equipa de investigação foi conseguir armazenar a informação em camadas. "Para escrever algo numa memória de papel é preciso aplicar uma carga. Se esta for de cinco volts vou precisar de aplicar outra carga semelhante para a apagar. Assim, ao aplicar cargas diferentes a cada informação conseguimos retirar o que queremos dependendo destas", explica Rodrigo.
Isto permite aplicar a tecnologia de diversas formas. Por exemplo, em etiquetas inteligentes que têm informação que só pode ser lida pelos clientes ou distribuidores. Também os jornais interactivos podem tornar-se uma realidade mais próxima com esta tecnologia barata. Ou então sistemas de segurança para colocar nas notas. A imaginação é o limite para os usos que se podem dar aos transístores de papel e nem o suporte é impedimento: "Ainda vamos ver transístores em bases de farinha e ovos", termina Elvira.
in Jornal Diário de Notícias – edição 19.09.2009
Jornalista: Bruno Abreu
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