sábado, 4 de junho de 2011

Economia

Êxito para agricultor ribatejano de produtos biológicos
As chuvas tardias atrasaram as culturas nos cerca de três hectares de terreno onde Libério Alcobio produz alimentos sem recurso a químicos, num equilíbrio com a natureza que aprendeu experimentando.
Pioneiro, instalou-se, quase há 20 anos, nos terrenos que eram dos pais, em Casalinho (Alpiarça) determinado a seguir uma via diferente, com que havia contactado anos antes em França, em que apostasse na qualidade dos produtos e no respeito pelo meio ambiente e equilíbrio com a Natureza.
“Ainda se falava muito pouco sobre agricultura biológica, não havia escoamento de produtos”, recorda.
Começou por bater às portas de escolas e jardins de infância com refeitório, por ir aos mercados, ao Porto às terças feiras, a Lisboa às quintas.
Foi uma forma de “conhecer os clientes para saber o que precisavam e o que queriam”.
Hoje é dos poucos que vende directamente o que produz no mercado de agricultura biológica do Príncipe Real, fornece a cantina da Gulbenkian, restaurantes e, não fosse não ter capacidade de resposta, estaria a vender para o El Corte Inglês.
“Um dia apareceu aqui um engenheiro do grupo Sonae, não o contactei, não sei como apareceu. Queria que produzisse morangos para eles, mas com a porção que tinha não era vantajoso, depois os períodos de pagamento e as margens de lucro” não compensavam.
Por isso prefere continuar a vender directamente ao consumidor, pois vê vantagens para os dois. “Não tenho produto que chegue para a procura que tenho”, disse, sublinhando que só não há mais gente a produzir no modo biológico “por uma questão cultural”.
No seu entender, se Portugal, como país pequeno que é, com um clima de excelência, apostasse na produção de alimentos de qualidade “seria auto suficiente”.
Só lamenta que o Ministério da Agricultura continue “distraído” e que as escolas que formam os técnicos só agora comecem a despertar, aparecendo para visitas com alunos mas ainda sem oferecerem disciplinas que dêem formação nesta área.
Para produzir no modo biológico “é preciso ter conhecimento mais científico da associação de culturas. Umas repelem-se, outras associam-se, defendendo-se, repelindo insectos e pragas e favorecendo aromas e sabores”.
No hectare de estufas e nos dois de terreno a descoberto tem de tudo um pouco em matéria de hortofrutícolas – alfaces, chicória, rúculas, beterraba, cenouras, tomate cereja e chucha, produz todo o ano sete ou oito variedades de morango, vai ter uma área considerável de fisalis, uma resposta ao pedido dos clientes, a que acrescenta o exótico quiabo ou a abóbora pequena cujas sementes teve que importar da Holanda.
Tem vindo a recuperar espécies autóctones da região em vias de desaparecer, como o melão verde António, a romã preta, amoras e figos gigantes ou a uva moscatel branca, cujas passas Alpiarça chegou a exportar no passado.
Libério Alcobio inclui produtos transformados à sua oferta, como diversas compotas ou o tomate seco que esgota em três tempos e que resulta de cinco anos de experiências que lhe permitiram obter um produto de uma qualidade que classifica de “suprema”.
Com vários projectos em carteira, o próximo passo é subir um degrau num tipo de agricultura respeitadora do ambiente e do equilíbrio com a Natureza – obter a certificação em agricultura biodinâmica, forma de produção que pressupõe a compreensão das leis e ritmos da Terra, das influências dos astros, do sistema solar e do ciclo lunar.
*Lusa
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