segunda-feira, 20 de junho de 2011

Cultura

Vila Nova da Barquinha: Antigos vestígios de ocupações do Paleolítico Inferior em exposição
Os mais antigos vestígios de ocupações do Paleolítico Inferior datados até hoje em Portugal - milhares de artefactos e sinais de presença humana de há 300 mil anos, encontrados em Barquinha - podem agora ser conhecidos numa exposição patente naquele concelho.
Ao longo dos últimos anos, arqueólogos de vários países identificaram no sítio arqueológico da Ribeira da Atalaia o que afirmam ser os mais antigos vestígios humanos datados até hoje no país, num local ainda pouco conhecido em Portugal mas que todos os anos atrai investigadores e especialistas de todo o mundo.
O resultado global das escavações está pela primeira vez visível ao público na sede da Associação Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ribatejo (ACIAAR), em Vila Nova da Barquinha, uma mostra integrada na exposição ‘4600 milhões de anos de evolução, dinossauros e memórias da Pré-História’.
O sítio arqueológico da Ribeira da Atalaia (ou Ribeira da Ponte da Pedra), localizado a poucos quilómetros da confluência do Rio Tejo, foi identificado na década de 1980 pelo arqueólogo José Gomes, que disse à Lusa ter desconfiado daquele local após ali ter sido descoberta uma “lasca de pedra”.
“Era só uma mas foi isso que me despertou a atenção para aquele local”, lembrou o arqueólogo, um dos fundadores da ACCIAR.
A partir do momento em que iniciou as primeiras escavações, e perante a evidência dos achados trazidos à superfície, José Gomes passou a informação e desde 1999 que uma equipa internacional de arqueólogos escava aquele local.
“Hoje existem 80 sítios identificados como de interesse arqueológico em Vila Nova da Barquinha”, fez notar o especialista, a quem a descoberta dos vestígios com a mais antiga datação absoluta de ocupação humana em Portugal nunca tinha “passado pela cabeça”.
Desde 2004, o sítio da Ribeira da Atalaia tem integrado diversos projectos financiados pela Comissão Europeia (CE) no âmbito da formação e investigação, em especial nos cursos de mestrado Erasmus Mundus em Quaternário e-Pré História. Este é o único mestrado de arqueologia reconhecido a este nível pela CE, figurando o sítio da Ribeira da Atalaia como enlace em Portugal da rede dos sítios-escola mais antigos do Sul da Europa, a par de Atapuerca, em Espanha, Tautavel e Vallonet, em França, ou Pirro Nord e Isernia La Pineta, em Itália.
O “desconhecimento ou alheamento” dos portugueses relativamente à importância histórica do local não preocupam José Gomes – “menos estragam”, diz -, mas, ainda assim, o especialista defende a necessidade da protecção e vedação do sítio.
“Não apenas por se tratar do mais antigo local datado em Portugal, mas também pela sua extensão, que consente a programação de escavações-escola que poderiam funcionar ao longo de todo o ano”, vincou.
A mostra está patente ao público até ao final do ano retratando temas como o ‘Paleozóico’, ‘Os Hominídeos’, ‘Caçadores – Recoletores, 'O Paleolítico’ ou ‘Os Primeiros Habitantes’, numa iniciativa da ACIAAR e do Instituto Politécnico de Tomar.
*Lusa
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