sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Autarquias

Presidente da autarquia da Chamusca diz que o município já está habituado a viver em contenção
A viver em contenção desde 2006, o município da Chamusca, dependente em 86 por cento das transferências da Administração Central, já não estranha mais um aperto nas contas para este ano. “Vivemos sempre uma situação difícil. Temos nos últimos tempos, permanentemente, feito a verificação dos principais consumos e do que podemos fazer”, disse à agência Lusa o presidente da autarquia. A presidir desde 1979 a um dos cerca de dez concelhos com morte social anunciada para daqui a umas décadas, Sérgio Carrinho não tem dúvidas do caminho a seguir. Com menos dinheiro, “só há uma possibilidade: escolher de forma mais criteriosa para que as pessoas tenham os serviços essenciais - e isso está garantido -” e agarrar todas as oportunidades de criação de emprego, disse à Lusa. Pouco antes das autárquicas de 2005, Sérgio Carrinho, eleito pela CDU, dirigiu-se à Polícia Judiciária denunciando ilícitos de natureza administrativa – que a própria oposição atribuiu a desorganização e não a desonestidade - e assumindo a rutura financeira do município. Reeleito, as contas passaram a ter um controlo apertado e a prioridade, num concelho com um vasto território (746 quilómetros quadrados) e pouco mais de 11.000 habitantes, na sua maioria idosos, centrou-se no desenvolvimento do EcoParque do Relvão e no setor social. Com o EcoParque, a Chamusca tornou-se um caso raro de um município que disponibilizou uma vasta área do seu território para receber todo o tipo de resíduos, fazendo disso uma oportunidade de desenvolvimento. “De 2007/2008 para cá foram criados 350 postos de trabalho diretos num lugar que há dez anos só tinha calhaus, lagartixas e estradas manhosas e hoje tem empresas, algumas com tecnologias evoluídas”, além das numerosas empresas prestadoras de serviços que foram surgindo à sua volta, disse. Apesar do aperto financeiro – pela primeira vez o orçamento para 2012 (22,6 milhões de euros) não crescerá (tem um corte de 400.000 euros) -, o município optou por manter descontos elevados (até 70 por cento) nas taxas municipais. “É um concelho com muitos idosos e rendimentos pequenos. Não vale a pena ter taxas altas. As pessoas já estão muito sobrecarregadas. Se o município é pobre não pode exigir taxas incomportáveis para o nível de vida das pessoas”, explicou. Um dos exemplos está na construção civil. As duas ou três pequenas empresas do concelho vão sobrevivendo com as obras de recuperação, cujos processos a autarquia facilita e isenta de taxas, já que os pedidos para novas construções praticamente deixaram de existir. “São postos de trabalho que se mantêm”, frisou Sérgio Carrinho, contando casos concretos de vários munícipes que lutam para manter os seus negócios abertos. A preocupação com os “indicadores das dificuldades” que aí vêm só não preocupam mais o autarca porque existe no concelho um bom trabalho em rede das várias instituições de solidariedade social e uma estreita articulação com a autarquia. “São mecanismos que permitirão evitar situações demasiado extremas. Sabe-se, com muita proximidade, das famílias com mais risco. Estamos muito atentos”, disse, repetindo uma máxima que marcou os dias que se seguiram aos trágicos incêndios do verão de 2003: “a nossa posição nunca foi a de ficar a chorar sentados”.
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