domingo, 31 de julho de 2011

Solidariedade

Idade não impede de fazer voluntariado e ser-se feliz na ajuda ao próximo
Aos 91 anos de idade, a ligeireza no andar e a firmeza na atitude solidária fazem de Maria Ramiro Godinho o modelo da orientação ética de um grupo de mulheres voluntárias que exercem no hospital de Abrantes.
A cumprir o 10º ano em actividade, a Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes criou em 2004 um grupo de voluntárias para prestarem apoio no hospital de dia, ao nível da ortopedia, medicina, cirurgia e doenças cancerígenas terminais, assegurando acompanhamento e visitas diárias, apoio psicológico, palavras de conforto e ajuda na hora da toma das refeições.
Dona Mira, como é afectuosamente tratada pelas companheiras, sabe bem o que significa lidar com doenças terminais. O seu marido lutou durante doze anos contra um cancro, uma batalha que viria a perder em luta muito sofrida.
Então com 84 anos, dona Mira foi a primeira a inscrever-se para o serviço de voluntariado da Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes. Queria vestir uma bata amarela para ajudar o próximo, partilhar a experiência de vida e os conhecimentos adquiridos. E o objectivo estava bem definido: ajudar e confortar os doentes com cancro e doenças terminais.
Isabel Alberty, coordenadora da Liga dos Amigos, disse à agência Lusa que dona Mira “parece ter sete foles como os gatos”, tendo acrescentado que “só falta mesmo trazer a cama” para o hospital, tal a sua dedicação e respeito pelo assumir do compromisso das visitas diárias.
“Estou farta de dizer que a dona Mira não pode estar sempre a dar tanto e que ainda vou ter de proibir o voluntariado a partir dos 80 anos. Mas ela diz-me que eu não a posso proibir de visitar os seus doentes, com ou sem bata, e eu tenho de me calar e aceitar”, observou.
“Ela vive para os doentes e para os desprotegidos, é assim que ela é feliz e enquanto dona Mira quiser e puder é muito bem vinda por todos”, vincou.
Paula de Vahia tem 46 anos e é também uma voluntária na equipa de dona Mira sobre quem afirmou ser “a pessoa com mais energia” no grupo.
“Tem 91 anos mas não parece. Ela é a nossa orientação ética e moral e também nos dá muita força para continuarmos”, observou.
Em declarações à agência Lusa, Maria Ramiro Godinho, perdão, dona Mira, que de outro modo ela não aceita, afirmou “viver o evangelho todos os dias”, assegurando que “é aí que estão todas as bases” do voluntariado.
“O meu marido morreu com cancro e eu passei por tudo isto durante muitos anos, pelo que sei dar valor à importância de dizer uma palavra certa à hora certa e viver com eles as horas más porque estão a passar”, observou.
Dona Mira afirmou ter uma grande força espiritual que advém da sua força interior e do facto de “rezar e pedir todos os dias” para a caridade.
“Sou feliz assim”, acrescenta dona Mira.
Em Abrantes, depois das visitas aos “seus” doentes acamados, dona Mira faz visitas a casa de pessoas desfavorecidas. Pelo telefone, soubemos que ia entregar nesse dia a 17ª cama articulada a uma pessoa em dificuldade.
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