segunda-feira, 21 de abril de 2008

Tradições Populares

“Pão Caseiro”

Passar uns dias, de vez em quando, no Barreiro, em casa dos filhos, é sempre agradável. Rever e abraçar amigos de algumas décadas, é consolador.
Há dias, a uma refeição, serviram-me pão caseiro da “Louriceira”. E que luxo de pão! Aveludado, gostoso…
Da Louriceira e ainda quente? – indaguei.
- Uns chamam-lhe da Louriceira, outros, pão alentejano, mas o que é certo é que é aqui fabricado, perto de Alhos Vedros.
Desfazer o enigma, impunha-se. A curiosidade era muita.
Carro a caminho, eis-nos na localidade de Arroteias.
Moradia estilo alentejano (não fosse pertença de um casal de alentejanos). Um magote de gente esperava pela última fornada.
Meti conversa e perguntei se o pão seria bom.
- Não há, aqui na região, melhor que o pão da Louriceira.
- Como, da Louriceira, se aqui é fabricado?
- Chamamos-lhe pão da Louriceira, e há, até, quem lhe chame alentejano. Para mim o que importa é que é bom e não como outro.
Um portão largo conduzia-nos a um pátio de paredes caiadas, onde pargas de lenha de pinho se arrumavam. Ao fundo, um grande forno e a azáfama de quatro pessoas. Mais ao lado, um armazém com pilhas de sacos da farinha nos quais estava gravado a letras vermelhas: “António Raimundo & Filhos – Louriceira”.
Estava desfeito o enredo. «Gato escondido com o rabo de fora».
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in “Nossa Terra, Nosas Gente” – José da Luz Saramago
Publicado no Jornal “O Alviela” – 06.12.1996