segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Cultura

Pedro Canavarro doa espólio pessoal ao Arquivo Distrital de Santarém
O historiador, político, homem de cultura Pedro Canavarro decidiu “despojar-se” do seu espólio pessoal oferecendo-o ao Arquivo Distrital de Santarém, onde os documentos que retratam a sua vida se vão juntar aos da família Passos Canavarro.
A assinatura da doação decorre hoje na Casa Museu Passos Canavarro, simultaneamente à inauguração de uma exposição com alguns dos documentos que saem da esfera pessoal e passam para o domínio público e que vai estar patente até ao próximo dia 29.
“É um despojamento meu a entrega ao Arquivo daquilo que foi a minha vida. Não quer dizer que a minha vida seja melhor ou pior que qualquer outra”, disse Pedro Canavarro à agência Lusa.
A sua ideia é que, um dia, os investigadores possam “analisar o estar de alguém no século XX”, e alguém que se envolveu em áreas tão distintas como a cultural, a política, a social.
Este “despojamento” pessoal insere-se na linha de “partilha” que representou a abertura da Casa Museu, em maio, com a singularidade de Pedro Canavarro continuar a viver na residência adquirida por Passos Manuel no século XIX, em plena Alcáçova de Santarém, e ser ele próprio guia de quem visita o espaço.
“Sei que é preciso uma certa coragem porque é darmo-nos aos outros da forma mais total que é possível um ser dar-se. Acho que é um complemento esta minha dádiva pessoal com a dádiva da casa. É ser eu no espaço em que nasci, estar aberto para poder ser partilhado e enriquecido pelos outros na perspetiva na perspetiva deles e não só nas minhas”, disse.
O espólio, que integra muitas fotografias e 24 cassetes que Pedro Canavarro está agora a passar para o papel, inclui documentos desde a adolescência, à experiência “exótica” de ter partido, terminada a licenciatura em História, para o Japão, onde foi leitor de português.
A convivência de perto com as revoluções a Oriente (de Mao Tse Tung) e a Ocidente (as várias lutas académicas, o 25 de Abril), a vivência de comissário geral da XVII Exposição do Conselho da Europa, dedicada aos Descobrimentos portugueses, que recorda como “a maior exposição de arte feita até hoje em Portugal” e a primeira a abrir-se para fora da Europa.
Depois o envolvimento político, primeiro na criação do PRD (Partido Renovador Democrático), depois como deputado no Parlamento Europeu, num “momento histórico” da queda do muro de Berlim e de todas as “utopias e idealismos” que surgiram então na Europa, e ainda protagonizando a abertura criada com o Tratado de Maastricht ao ser o primeiro cidadão a concorrer a eleições europeias num outro país (Itália).
Por outro lado, o envolvimento no movimento associativo, em Lisboa, com a criação da Associação de Amizade Portugal/Japão, mas sobretudo em Santarém - sua terra natal onde faz questão de residir e na qual espera morrer -, na Associação de Estudo e Defesa do Património Histórico e Cultural, no Círculo Cultural Scalabitano, na Casa da Europa do Ribatejo.
“Sinto-me muito satisfeito, porque me sinto a partilhar com aqueles que estiverem interessados em partilhar, dando-lhes a liberdade para interpretar a documentação que fica ao cuidado do Arquivo Distrital de Santarém”, afirmou Pedro Canavarro à Lusa.
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