sábado, 25 de fevereiro de 2012

Locais

Alpiarça: Aldeia do Patacão está em restauro
O grupo de casas palafitas, em madeira, que constituem a aldeia piscatória do Patacão, em Alpiarça, começa a perder o ar de décadas de abandono e prepara-se para iniciar um longo processo de restauro. Com vários núcleos dispersos, o Patacão é um bom exemplo dos vestígios deixados por uma cultura – resultante da migração dos pescadores de Vieira de Leiria, no início do século XX, para as zonas ribeirinhas do Tejo e do Sado - que se bate por ser reconhecida como património nacional. “Hoje contabilizamos 180 dias/homem de trabalho voluntário”, disse à agência Lusa João Serrano, um dos responsáveis do projeto da cultura avieira, que vai dirigindo o trabalho da mais de uma dezena de pessoas que se juntou em mais um sábado dedicado à limpeza do Patacão. Um sábado por mês, desde 2010, responsáveis do projeto, antigos proprietários, descendentes de avieiros juntam-se num esforço que até aqui se concentrou na limpeza do espaço e que hoje se começou a centrar no trabalho de restauro das casas alinhadas ao longo do dique que protege contra as cheias do Tejo. António Alfaiate, o carpinteiro, acompanhou hoje os arquitetos Carlos Silva, da Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça (AIDIA), e Inês Calouro, da Associação Arquitetos Sem Fronteiras – Portugal, na visita às duas primeiras casas a serem restauradas, uma em cada extremo da aldeia. Uma delas, presumivelmente a primeira a ser construída, em 1963, do “Ti Bacalhau”, é para ser inaugurada em 2013, quando se assinalarem os seus 50 anos, sublinha João Serrano. “Queremos preservar ao máximo”, avisa, chamando a atenção para pormenores da construção e para a particularidade das cores – diferentes em cada divisão e diferentes no exterior, como marca identificadora do proprietário. O destino das casas vai ser definido pela comissão executiva do consórcio que se constituiu em torno do projeto da cultura avieira, coordenado pelo Instituto Politécnico de Santarém, mas é certo que as aldeias palafitas irão integrar o roteiro turístico que está associado ao projeto, frisou. António Petinga, 72 anos, e a mulher, Emília Branha, tiram da memória o desenho da casa onde viveram depois de casar, e de que hoje só restam os pilares, na esperança de que os arquitetos possam desenhar a planta para a sua reconstrução. “Era uma vida sacrificada, mas bonita. Vivia-se com alegria”, disse à Lusa este antigo pescador avieiro (o pai chegou às margens do Tejo quando tinha 22 anos). Acompanhado do “mestre” José Moreira e do jovem Nuno Branha, neto de avieiros, não esconde a esperança de ver a aldeia recuperada para que quem passa possa dizer “olha ali a aldeia dos pescadores”. João Serrano vai descobrindo objetos que carrega para o carro para se juntarem ao espólio do futuro Museu dos Aveiros. “Já temos oito embarcações originais”, disse à Lusa, descrevendo pormenorizadamente as adaptações que sofreram para a pesca no rio os barcos que durante muitos anos serviram de casa dos avieiros. Hoje leva uma tampa de cortiça que tem bem visível o sinal que identificava o seu proprietário – “é do Zé Branha”, disse sem hesitar António Petinga – e a peça de suporte de uma barrica de vinho.
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