sexta-feira, 30 de maio de 2008

Nossa Terra, Nossa Gente!...

“Um Passeio ao Campo”

O Inverno está a meio mas a manhã luminosa convida-nos a um passeio ao campo.
Descemos o caminho ladeado por um chão que aqui e ali vai parindo um regato que, mais à frente, engrossa o ribeiro do Lameiro, onde as bogas lutam contra a corrente que, lá em baixo, se dilue no Rio Alviela, cantando um sussurro melodioso acompanhado de outros cânticos dos pintassilgos, dos cartaxos e dos pintarroxos.
A urze, a alfazema, o alecrim, a salva, a hortelã brava, a pimenta e a erva cidreira exalam uma mistura de perfumes que nos revitalizam o espírito.
No rio cantam as galinholas, enquanto esperam pelo descuido dum barbo ou dum robalo, seu petisco preferido.
Do outro lado, Amândio, agarrado à rabiça da charrua, grita à junta de bois que, pachorramente, agita as campainhas numa lamúria monótona:
- Faz-te ao rêgo, Castanho! Anda Cabano!...
Atrás de si, um bando de alvéolas esgravata a terra já lavrada, à procura de minhocas e de outros vermes.
O baloiçar do caniçal canta outra música. Tudo é melodia, tudo nos convida à poesia…
Quem nos dera ser poeta para poder transmitir ao papel toda esta maravilha da natureza.
........................................................................
in "Nossa Terra, Nossa Gente" - José da Luz Saramago
Publicado no Jornal "O Alviela" - edic. 14.02.1997