sexta-feira, 9 de maio de 2008

Louriceira - Outras Épocas...

“Louriceira – Terra Hospitaleira”

A Louriceira sempre acolheu bem os forasteiros.
Não é por acaso que, ainda hoje, uma parte considerável dos seus habitantes não é daqui natural.
São, normalmente, indivíduos que gostam desta terra. E muitos têm-no provado, através de várias acções.
Hoje queremos salientar um dado particular, o histórico, que ilustar bem como as pessoas que por aqui passam e arranjam amigos, mesmo sem se radicarem, criam raízes que nem as gerações vindouras deixam perder.
Desde tempos remotos que alguns pescadores da Nazaré, para que os Invernos não lhe causasse tanto sofrimento, emigravam para outras paragens em busca de sustento.
Foi assim que a família Lameiras, um dia perdido no tempo, por sucessivas gerações, aqui veio parar.
Pescavam no Rio Alviela e viviam da venda do peixe.

Barbo, bordalos e enguias
Boga, pardelha ou sarmão
Foram peixes d´outros dias
Para alguns, seu ganha-pão.

Várias testemunhas, ainda vivas, conheceram José Lameiras, por alcunha o Vale d´Água, que foi filho de gente que se habituou a vir passar os Invernos À Louriceira.
Depois, o seu filho, o António Lameiras, igualmente conhecido por Vale d´Água, cresceu, e quando homem, também ele seguiu o caminho do seu pai e aqui criou amigos que, no verão, o iam visitar À praia da Nazaré, onde eram hóspedes de primeira.
António Vale d´Agua, homem pobre mas muito honesto, já há muito tempo faleceu. No entanto, suas filhas, que como é óbvio, não são pescadoras, já por sua vez têm netos, habituadas a passar aqui os Invernos, cá vêm parar todos os anos, especialmente a Maria da Praia – que se dedica à apanha da azeitona ou, simplesmente, como convidada.
Em troca, no verão, recebe as amigas que lhe deram guarida.
É assim a Louriceira, terra de gente simples que conta em cada forasteiro UM AMIGO.
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in "Nossa Terra, Nossa Gente"
José da Luz Saramago
Publicado no Jornal "O Alviela" - 08.07. 1991