segunda-feira, 2 de março de 2009

Necrologia



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Morreu o Orlando…

Com mais de sete décadas de idade, faleceu hoje Orlando Jorge Gomes, natural de Pernes, Santarém.
Filho de pai Pernense e de mãe Louriceirense, a partir de tenra idade passou a residir na freguesia de Louriceira, concelho de Alcanena, onde passou a infância e a adolescência.
Com exultação e fraternidade, conviveu e brincou com os meninos pobres louriceirenses.
"Na lonjura dos campos e nas margens do Alviela, pareciam “bandos de pardais”, “chilreando” e manifestando uma alforria própria de crianças, enquanto admiravam a liberdade das bogas que nadavam nas águas límpidas que corriam para foz.
Na juventude, foi um dos “craques” da equipa de futebol do Centro Instrutivo Louriceirense, que teve pergaminhos no desporto da região durante as décadas de cinquenta e sessenta.
Após a instrução primária, fez o liceu em Santarém, ingressando posteriormente na Faculdade Técnica de Lisboa, (Instituto Superior Técnico), no qual se licenciou em Engenharia Mecânica. Após a conclusão do curso superior, leccionou no mesmo Instituto, cadeiras de Tecnologia Mecânica.
Prestou durante nove anos serviço militar, tendo comandado duas companhias do exército em Timor Leste.
Quando regressou a Portugal, exerceu funções de direcção e administração de empresas do Grupo Cuf, ELF (França) e Dragados (Espanha).
Após a aposentação, passou a dedicar-se às artes (Literatura e Pintura).
Deixa uma obra notável no campo das Artes Plásticas, com várias telas pintadas a óleo, tendo exposto em vários locais do país, inclusive no concelho de Alcanena e na freguesia de Pernes. Na área da literatura, escreveu o livro “Viagem ao Interior da Solidão”, o qual fez questão em oferecer vários exemplares às gentes louriceirenses.
Em sua respeitosa homenagem, transcrevemos um excerto desse mesmo livro:

“VOAR”

Conheci
o sabor amargo
da terra queimada
e o gosto podre
da água estagnada

Aprendi
quanto custa
escalar
a montanha gelada,
andar sozinho
no deserto,
perdido,
e sentir-me morrer
num abismo,
caído,

Suportei
sem queixume
a solidão, a dor,
a traição
e o ciúme,

Vi morrer
a minha alma
por falta
de amor.

Fiquei só,
com a suprema
precariedade
das certezas
e com a insuportável
eternidade
das dúvidas

E pedi,
que quando
minha vida
acabar,
mandem
meu corpo cremar
e procurem
ser felizes,
sem mim,
porque eu quero
continuar a voar,
nos céus,
sem fim.
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