terça-feira, 20 de março de 2012

Sociedade

Santarém lançou projeto Banco Local do Voluntariado
Uma vez por semana, Ascensão Pereira, com 83 anos, abre a porta de sua casa à enfermeira Ana Felicíssimo, de 42 anos, uma das cinco voluntárias do projeto mais recente do Banco Local do Voluntariado de Santarém. “Com ela desabafo descansada”, disse Ascensão Pereira, uma das cinco idosas abrangidas pelo projeto “Voluntariado de Proximidade”, à agência Lusa. Ana Felicíssimo, enfermeira no Hospital de Santarém, revelou-se a ouvinte certa para as confidências desta idosa que, embora tenha família, sente o peso da solidão e do isolamento. “Aqui, apesar de ser cidade, isto está muito só, muito isolado. Muitas pessoas moram aqui há anos. Sei que moram na rua, não sei se é esta porta se aquela. Ninguém dá palavra a ninguém. Sinto-me aqui muito só e tenho medo, de dia e de noite, também pelo que se ouve dizer, pelo que se ouve na televisão”, disse Ascensão Pereira à Lusa. Nesta fase inicial o projeto apenas envolve idosos que vivem sozinhos no meio urbano e que beneficiam do serviço de teleassistência proporcionado pela Câmara Municipal de Santarém, entidade que coordena o Banco Local do Voluntariado. “Este é um projeto recente, que está a dar os primeiros passos e que queremos alargar a outras zonas do concelho, permitindo este apoio a um número mais alargado de idosos”, afirmou à Lusa a chefe da Divisão de Ação Social da autarquia, Elizabete Filipe. Iniciado há cerca de quatro meses, os voluntários estão ainda em fase de estabelecimento de uma relação de proximidade e de identificação com o idoso, sendo o objetivo passar da fase da conversação e visita domiciliária para “outras áreas de apoio, nomeadamente ida às compras, à farmácia, a uma consulta médica”, frisou. Criado em dezembro de 2007, o Banco Local do Voluntariado de Santarém conta com perto de 200 voluntários inscritos, cuja disponibilidade articula com as 16 instituições de economia social aderentes. “O voluntariado é definido em função da disponibilidade das pessoas. É assumido o compromisso de quanto tempo têm disponível e a partir daí organizamos as diferentes respostas e a integração da pessoa. Pode ser uma hora/dia, uma hora/semana, uma hora/mês” ou ainda para colaborações pontuais (sobretudo no caso dos estudantes), afirmou. Para Ana Felicíssimo, que introduz a hora e meia por semana que dedica à sua idosa numa agenda carregada de turnos no Hospital e envolvimento em outros projetos, “falta de tempo não é desculpa”, pois, “quando a gente quer muito consegue”. Nas visitas que faz à dona Ascensão procura que a idosa “se sinta acompanhada, se sinta útil, que possa colocar receios e o que a preocupa”. Atenta aos sintomas associados ao isolamento e à solidão, Ana procura que Ascensão “se valorize, aumente a sua autoestima e autoimagem”, traz-lhe o mundo para dentro de casa. “Falamos de tudo. A dona Ascensão fala comigo de tudo o que lhe vai na alma, eu escuto, dou opiniões, tento ajudar no que consigo. Acho que criei já uma relação de confiança”, disse. Leónia Santos, a técnica do Banco Local do Voluntariado que acompanha de perto o trabalho dos voluntários e o resultado da sua ação, frisa a importância da criação destes laços e dum trabalho feito passo a passo, de forma a permitir encontrar as pessoas com o perfil certo e garantir a aceitação mútua.
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