sábado, 1 de março de 2008

Recordando!...

Do Livro "Nossa Terra... Nossa Gente" - da Autoria de José da Luz Saramago, no qual, constam artigos publicados no Jornal "O Alviela" na década de 90, publicamos este, que descreve, como eram os Carnavais em épocas remotas no burgo Louriceirense.
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O Carnaval dos Anos 40
Carnaval, Carnaval português, o das cegadas, dos trapalhões mascarados que enfarinhavam quem por perto se chegasse; dos entronchados que, brincando, pregavam partidas aos mais desprevenidos. Carnaval dos confetes, das fitas, das caraças, das salas de baile enfeitadas.
De sábado gordo a quarta-feira de cinzas, era o pandemónio.
Deitar os entrudos, na segunda-feira gorda, constituía o quadro mais hilariante e, por isso, mais esperado da aldeia.
Ti-António Francisco recolhia durante todo o ano os lapsos dos conterrâneos de quem se sabia uma atitude anedótica, uma farsa involuntária.
Naquela noite percorria as ruas da Louriceira levando atrás de si meia população arrastada pela graça natural desta figura popular.
- Estás a pé ou a cavalo? – gritava Ti-António Francisco, no seu altifalante – um funil de grandes dimensões – ao primeiro visado da noite.
- Vem à janela para ouvires uma gaitada! Berra a música, rapaziada!
E as tampas das panelas, os latões e os penicos, qual orquestra afinada, chamavam o farsante para a frente da multidão a fim de ser julgado e poder desculpar-se.
- Com que então, levantaste-te, ainda de noite, para odenhares a cabra e, só depois de muito espremeres sem resultado é que deste conta de que não era a cabra, era o bode!... Tens direito a uma gaitada! Berra a música, rapaziada!
E, assim, de casa em casa, de gargalhada em gargalhada, se esgotava a noite de 2ª feira gorda.
É certo que o riso não matava a fome mas matava a tristeza.

JLS