sexta-feira, 28 de março de 2008

Estou Triste!...

Máquinas da central eléctrica vandalizadas: perda irreparável
para o património torrejano

Foi um choque quando se deu pelo sucedido na tarde de terça-feira. As máquinas da antiga central eléctrica, únicas no país, estavam totalmente esventradas pelos caçadores de cobre. As ruínas contíguas ao edifício foram a porta de entrada dos ladrões, que gozaram assim de total segurança visual e sonora, talvez durante meses, sem que ninguém da Câmara tivesse dado por isso.
Na tarde de terça-feira, uma pessoa que mora perto da antiga Central Eléctrica do Caldeirão achou estranho que um indivíduo se deslocasse para a zona das ruínas do lagar, com uma picareta na mão. Avisou a polícia, que se confrontou já só com um homem dentro do edifício da Central. A porta de entrada foi um buraco na parede feito na garagem, a partir das ruínas do lagar. Era por aí que os indivíduos entravam e faziam sair o material, para o lado do Almonda Parque. Muitas vezes foram vistos a entrar para as ruínas pela pessoa que falou ao JT, mas nunca se pensou que estava ali uma acção demorada e meticulosa de roubo do cobre dos vários maquinismos das turbinas e geradores da central.
Durante muito tempo, dois ou três meses, os indivíduos foram esventrando as máquinas para retirar o cobre, deixando-as totalmente destruídas em termos dos seus mecanismos eléctricos. O requinte chegou à situação de abrirem o chão à picareta para retirada de fios. Como as portas do edifício, à guarda da Câmara Municipal, estavam sempre fechadas, quem passasse pelo local nunca suspeitaria que havia gente a "trabalhar" lá dentro. Fonte da PSP disse ao JT que o indivíduo acabou por não ser detido porque não havia qualquer queixa do dono do edifício, embora tenha sido confrontado com fios de cobre na mão e ferramentas.

Património raro

Duas turbinas hidroeléctricas, uma de 1936 outra de 1937, foram destruídas nas suas componentes fundamentais, o que impede que sejam postas a funcionar. Também os dois geradores, um dos quais funcionou com a máquina a vapor da primeira central eléctrica do Matadouro, depois mudada para o Edifício Parque, da empresa de José Manuel Ferreira, mais antigo ainda que as turbinas, foram alvo da destruição.

Este conjunto foi considerado único no país quando o departamento de museologia da EDP o quis levar para a Central Tejo, em Lisboa, no início dos anos 80 do século passado, como demonstrativo das primeiras centrais eléctricas portuguesas ainda a funcionar, como explicou ao JT fonte da Associação de Património.

A destruição deste núcleo hidroeléctrico é, assim, um dos maiores golpes de sempre de que foi alvo o património industrial torrejano e constituía o conjunto nuclear do Centro de Ciência Viva previsto para o local. Sem este património, em bom estado e preparado para funcionar como demonstração, é o próprio Centro de Ciência Viva que poderá perder qualquer razão de ser.

Um cenário perfeito

O edifício estava sob a alçada da Câmara Municipal e as suas portas devidamente fechadas. No entanto, o facto de ninguém lá ter entrado há muito tempo, uma situação talvez anormal, permitiu que o vandalismo continuasse tranquilamente. Mas, tem de se dizer, este crime só foi possível pela existência das ruínas do lagar que ali permanecem impunemente há décadas. Elas foram a camuflagem para a entrada no edifício da central através do arrombamento da parede e para as entradas e saídas em perfeita segurança para os criminosos.
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in Jornal "Torrejano" - edição online - 28.03.08
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Estou triste pela destruição daquele valioso património.
A. Anacleto