segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Biografias

Quando passava na ponte sobre o Rio Tejo no Rossio ao Sul do Tejo, junto à cidade de Abrantes, veio-me ao pensamento um personagem de elevado relevo da cultura portuguesa, refiro-me a - ANTÓNIO BOTTO.
Após várias consultas, transcrevo a vida e obra, deste grande vulto, da primeira metade do século passado.
..........................................................................
A. Anacleto
Vida:
António Botto, nasceu a 17 de Agosto de 1897, em Concavada, freguesia do concelho de Abrantes. Em 1908 a sua família mudou-se para o bairro de Alfama em Lisboa, onde cresceu no ambiente popular e típico desse bairro, que muito influenciou a sua obra. Recebeu pouca educação formal e trabalhou em livrarias, onde travou conhecimento com muitas das personalidades literárias da época, e foi funcionário público. Em 1924-25 trabalhou em Santo António do Zaire e Luanda, na então colónia de Angola.

Personalidade:
António Botto tinha uma forte personalidade. Descrevem-no como magro, de estatura média, a boca muito pequena de lábios finos, os olhos amendoados, estranhos, inquisitivos e irónicos (de onde por vezes irrompia uma expressão perturbadoramente maliciosa) frequentemente ocultados sob um chapéu de abas largas.
Tinha um sentido de humor sardónico, incisivo, uma mente e língua perversos e irreverentes, e era um conversador brilhante e inteligente. Era amigo do seu amigo, mas ferozmente ruim se sentia que alguém antipatizava com ele ou não o tratava com a admiração incondicional que ele julgava merecer. Este seu feitio criou-lhe um grande número de inimigos. Alguns dos seus contemporâneos consideravam-no frívolo, mercurial, mundano, inculto, vingativo, mitómano, maldizente e, sobretudo, terrivelmente narcisista a ponto de ser megalómano.
Era visitante regular dos bairros boémios de Lisboa e das docas marítimas onde desfrutava a companhia dos marinheiros, tantas vezes tema da sua poesia. Apesar de ser sobretudo homossexual, António Botto foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues ("O casamento convém a todo homem belo e decadente", como escreveu).

Despedido:
Em 9 de Novembro de 1942, António Botto foi demitido do seu emprego na função pública (escriturário de primeira-classe do Arquivo Geral de Identificação) por “ter desacatado uma ordem verbal de transferência dada pelo primeiro oficial investido ao tempo em funções de director, por impedimento do efectivo; por não manter na repartição a devida compostura e aprumo, dirigindo galanteios e frases de sentido equívoco a um seu colega, denunciando tendências condenadas pela moral social e fazer versos e recitá-los durante as horas regulamentares do funcionamento da repartição, prejudicando assim não só o rendimento dos serviços mas a sua própria disciplina interna."
Ao ler o anúncio publicado no Diário do Governo, Botto ficou profundamente desmoralizado e comentou com ironia: "Sou o único homossexual reconhecido no País..."
A 17 de Agosto partiu para o Brasil com a sua mulher.

Últimos Anos:
No Brasil residiu em São Paulo até 1951 quando se mudou para a cidade do Rio de Janeiro. Sobreviveu escrevendo artigos e colunas em jornais Portugueses e Brasileiros, participando em programas de rádio e organizando récitas de poesia em teatros, associações, clubes e, por fim, botequins.
A sua vida foi-se degradando de dia para dia e acabou por viver na mais profunda miséria. A sua megalomania agravada pela sifílis era gritante e não parava de contar histórias delirantes das visitas que André Gide lhe teria feito em Lisboa ("Se não foi o Gide, então foi o Marcel Proust..."), de ser o maior poeta vivo e de ser o dono de São Paulo. Em 1954 pediu para ser repatriado, mas desistiu por falta de dinheiro para a viagem. Em 1956 ficou gravemente doente e foi hospitalizado por algum tempo.
Em 4 de Março de 1959, ao atravessar a Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro, foi atropelado por um automóvel do governo. Cerca das 17h00 de 16 de Março de 1959, no Hospital da Beneficiência Portuguesa, Botto, mal barbeado e pobremente vestido, expira, abraçado pela sua inconsolável mulher, que o chora perdidamente.
Em 1966 os seus restos mortais foram trasladados para Lisboa e, desde 11 de Novembro do mesmo ano, estão depositados no Cemitério do Alto de São João.
O seu espólio será enviado do Brasil pela sua viúva Carminda Rodrigues a um parente, que o doará, em 1989, à Biblioteca Nacional.

Obras
Poesia:
Trovas (1917)
Cantigas de Saudade (1918)
Cantares (1919)
Canções (várias edições, revistas e acrescentadas pelo autor, entre 1921 e 1932)
Canções do Sul
Motivos de Beleza (1923)
Curiosidades Estéticas (1924)
Pequenas Esculturas (1925)
Olimpíadas (1927)
Dandismo (1928)
Ciúme (1934)
Baionetas da Morte (1936)
A Vida Que te Dei (1938)
Sonetos (1938)
O Livro do Povo (1944)
Ódio e Amor (1947)
Fátima - Poema do Mundo (1955)
Ainda Não se Escreveu (1959)
Ficção:
António (1933)
Isto Sucedeu Assim (1940)
Os Contos de António Botto (1942) - literatura infantil
Ele Que Diga Se Eu Minto (1945)
Teatro:
Alfama (1933)
……………………………….
Cosulta: in Wikipédia