Na sequência da análise que estamos a proceder ao livro "XXII Jogos Florais do Concelho de Alcanena", do ano de 2008, está publicado este trabalho que passamos a transcrever na íntegra.
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Negros Tempos
Já vai o tempo,
E ainda bem;
Qualquer figurão
Com ar de janota,
Fosse ele burlão
Descambada a bota,
A gravata ao peito
Lhe dava bom jeito!
Já vai o tempo,
E ainda bem;
Funcionário pobrete,
Camisa no fio,
Coçado o colete,
A calça sem brio,
Com gravata berrante
Era importante
Já vai o tempo,
E ainda bem;
Deixada a picareta
Lá ia o homem só,
Sem pão na gaveta,
Tristonho, dava dó.
Mas junto à goela
Lá levava a trela!
Já vai o tempo,
E ainda bem;
Ao servidor do Estado,
Ainda que ignorante,
Era exigido atestado
De cidadão concordante
Com o regime e o trato!...
Pelo pão apertava o papo.
Já vai o tempo,
E ainda bem;
Um modesto cavador
As mãos calejadas
No rosto o suor
As botas cambadas
Sem gravata ao peito
Era um pobre sujeito.
Já vai o tempo,
E ainda bem;
Que este Povo
Escapou do «inferno»!
Respirou ar novo.
Rasgou o caderno.
Oh Abril bendito!
Tão nobre e bonito!
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Manuel Cardoso Vieira – Vila Moreira – 2º Prémio – Poesia
in “XXII Jogos Florais do Concelho de Alcanena”