domingo, 29 de junho de 2008

Locais...



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Aceitámos o amável convíte, para estarmos presentes nas Festas das Colectividades da Freguesia de Almoster do Concelho de Santarém, que se realizam este fim-de-semana.
Durante a manhã, aproveitámos para fazer uma visita a locais históricos da freguesia, entre os quais, destacamos o Mosteiro de Santa Maria de Almoster.
Após um excelente almoço, visitámos acompanhado pelo zelador do espaço, as quedas de água, com uma excelente piscina natural, localizada numa habitação privada, que se encontra excelentemente restaurada. Se não fosse para perturbar a digestão do anafado almoço, decerto que não resistíamos a um refrescante mergulho, já que o calor era abrasador por aquelas bandas ribatejanas!...
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A. Anacleto

Freguesia de Almoster

Concelho: Santarém
Área: 40,84 km²
População: 1 827 hab. (2001)
Densidade: 44,7 hab./km²
Área rural por excelência, Almoster situa-se numa das zonas mais férteis do país; a ribeira de Almoster, afluente do Rio Maior corre sobre uma das principais falhas geológicas da região e que conjuntamente com a Ribeira de Asseca desenham os contornos das principais áreas de extensão e arroteamento dos campos abastecedores de Santarém.
Um clima temperado com altos níveis de pluviosidade e humidade é responsável pela alta fertilidade dos planaltos calcários e das planícies de aluvião cortadas por pequenos vales por onde correm várias ribeiras que desaguam no Tejo, e pela existência de uma flora indígena mediterrânica, dominante, e atlântica.
Flora mediterrânica em que pontua o carvalho cerquinho e a azinheira, a par do sobreiro, da figueira, do pinheiro manso, loureiro, medronheiro, murta, a aroeira, tojo, carqueja, urze, soagem, esteva ou o alecrim o rosmaninho e a alfazema.
A flora de características atlânticas é de menor expressão mas ainda se encontram exemplares de carvalho alvarinho, castanheiro, ulmeiro, amieiro, choupos, freixos, salgueiros e pinheiro bravo resultando, a paisagem, numa mistura de ambientes com domínio de agrupamentos arbustivos do tipo carrascal.
Por contraste temos as zonas mais agricultadas com predomínio para a oliveira e a vinha as hortas e os pomares; não podemos esquecer que, e apesar de se encontrar já nos seus limites sul a freguesia de Almoster ainda está integrada no “Bairro” típico estremenho zona de agricultura intensiva do solo onde predominam os alqueives de trigo e cevada, e culturas irrigadas pegadas à lezíria, a planície aluvial do Tejo; foi a existência desta concentração de recursos que permitiu a grande variedade de culturas e um povoamento disseminado em inúmeras aldeias e habitações dispersas, e que desde cedo atraiu o homem a estas paragens.
Quanto à fauna destaca-se o melro, o picanço, a escrevedora, o cartaxo, a gralha o pica-pau, a andorinha, o rouxinol dos caniços, o abelharuco, a galinha d’água, o pato real, a garça, o peneireiro, a águia de asa redonda, o milhafre preto e a águia pesqueira também podendo ocorrer o bufo real; raposa coelho e por vezes a lontra.
A confluência das ribeiras de Almoster e Atalaia proporcionou condições excelentes para a fixação de populações desde muito cedo pois quando o mosteiro é fundado em 1289 já a área era habitada e era objecto da intervenção humana há muito tempo; o nome Almoster deriva de al-monasterium o mosteiro, embora o topónimo já existisse à data de fundação do mosteiro de Stª Maria.
A região é aliás rica em vestígios arqueológicos como o atesta a existência de um castro, possivelmente da Idade do Cobre, hoje destruído, sem ser estudado, por uma pedreira de calcário em lavra activa e que desde os anos 80 abriu uma chaga entre Almoster e Vila Nova do Coito, e que se liga a outros sítios pré-históricos nas redondezas como sejam os de Vila Nova de São Pedro e do Azambujal e cujas populações subsistiam da agricultura, em pleno desenvolvimento e que acompanha a sedentarização; bois, cavalos, cabras, porcos e javalis eram algumas espécies animais usadas na alimentação tal como a pesca e o marisco, como o testemunham os restos das suas conchas.
Encontrar-se-ão ainda vestígios de actividade metalúrgica como escórias e cadinhos de fundição e também restos de cerâmica, mós e silos. A tecelagem a confecção de vestuário e a produção de artefactos decorativos e de sentido religioso (corninhos de barro e placas de xisto de carácter antropormófico) terão constituído outras das suas actividades.
Na região foram ainda encontrados vestígios da ocupação romana, goda e mourisca, nomeadamente quanto ao desenvolvimento das técnicas de cultivo e de transformação, formas da propriedade e topónimos.
Segundo algumas opiniões, existiria já naquele local um mosteiro ou cenóbio que foi destruído durante a invasão moura no sec.VIII e que teria dado o nome ao lugar quando os mouros aí se instalaram. Após a reconquista de Santarém no séc.XII as terras foram redistribuídas pelos cristãos vindos do Norte, passando então, provavelmente, a fazerem parte da família de D. Sancha Pires, mãe da fundadora do mosteiro.
A aldeia ficou assim ligada ao convento das bernardas o qual ficou concluído em 1300; as freiras eram donatárias da freguesia e ali havia um hospital para pobres, administrado pelas freiras, que anualmente lhe atribuíam 38 moios de trigo e que era de especial importância para toda a região e que foi objecto de importantes doações.
Entre outras figuras ilustres como várias mulheres das casas de Noronha e Menezes que aí foram abadessas, naquele convento professou e morreu a Pelicana a judia Violante Gomes, mulher de rara beleza que se fez cristã por amor ao duque de Beja D. Luís, ambos pais do Prior do Crato, D. António, candidato vencido por Felipe II ao trono português em 1580.
Neste local, mais precisamente entre as pontes de Celeiro de Asseca e de Almoster, a 18 de Fevereiro de 1834, deu-se uma das batalhas mais sanguinolentas, renhidas e decisivas na guerra civil de 1832-34 entre absolutistas e liberais, não conseguindo, os absolutistas, comandados pelo general Lemos, desalojar os liberais de Almoster, comandados pelo marechal Saldanha.
D. Pedro, em memória dessa batalha, restaura o pedestal da estátua de D. José no Terreiro do Paço aí colocando a efígie do marquês de Pombal arrancada após a morte do rei, e, por decreto régio, faz do filho de Saldanha 1º conde de Almoster. Com a reorganização liberal é criada a freguesia de Almoster e, após o falecimento da última monja (1887) o governo cede o convento à Junta da paróquia.
Apesar do curso imparável do tempo, e dos acontecimento e mudanças que nele se sucedem as gentes continuarão ligadas aquela terra fértil e à produção agrícola, e apesar do despovoamento e abandono a que se vê votada muita da nossa província, a fertilidade da região, renovada anualmente pelo Tejo, parece que ainda consegue manter a população ligada à produção agrícola e à industria transformadora, apesar de Lisboa estar ali tão perto, mas, porventura, também por causa dela, muita da população continua ligada à terra.

“O Mosteiro de Almoster”
No cumprimento de uma disposição testamentária de Sancha Pires, sua filha Berengária Aires, que, segundo a tradição, presenciou com a Rainha Santa o milagre das águas do Tejo, que se abriram para ela passar e poder ver no leito do rio o túmulo de Stª Iria, funda, em 1289, o convento cisterciense feminino de Stª Maria de Almoster.
Os estabelecimentos femininos da ordem de Cister em Portugal surgem por acção das filhas de Sancho I, Mafalda, Sancha e Teresa; em 1196 os monges de Lorvão são substituídos por monjas e em 1224 Arouca também é reformada.
Embora de fundação tardia, integra-se num surto de fundações femininas os quais acompanham o crescimento demográfico relativamente desequilibrado que se conhece a partir do séc. XII, onde a feminilidade se sobrepõe claramente e cria problemas demográficos, principalmente nas casas nobres que ali irão “depositar os excedentes femininos”.
Apesar de algumas alterações às regras iniciais, que presidiam à criação de um mosteiro cisterciense, existia no entanto um mínimo de condições mínimas tais como respeito pelas regras fundamentais cistercienses, algum isolamento, água e vias de comunicação e condições económicas de continuidade como a posse de terras, sustentáculo da sua independência.
As principais diferenças assentam no facto de, por ser um mosteiro de monjas, não ser exigido, por razões materiais, o isolamento de núcleos habitacionais, o facto de se terem instalado num espaço habitado e domesticado, com um património fundiário já desenvolvido e interligado a dois espaços fundamentais que são Alenquer e Santarém. Apesar de apresentar uma estrutura hierárquica e electiva semelhantes a Cister, sobressai o patronato da família fundadora, nomeadamente através da designação e não eleição das primeiras abadessas.
A base de fixação e desenvolvimento é o conjunto de bens legados por Sancha Pires, sobretudo prédios rústicos concentrados na confluência da Ribeira de Almoster com o Rio Maior. A estes bens serão acrescentados outros através de compras, doações e escambos, quer bens rústicos, quer urbanos quer rendas e legados em moeda.
O convento será integrado na diocese de Lisboa, fundado oficialmente a 19 de Julho de 1289 e ratificado pelos Capítulos Gerais de Claraval, que detém numa fase inicial a sua gestão espiritual que acabará por perder para Alcobaça.
As ligações da fundadora com a Rainha Santa garantem a protecção da casa real, tendo D. Dinis confirmado o couto e os seus sucessores farão o mesmo. Também Isabel de Aragão irá dotar o convento de alguns bens através de disposições testamentárias.
A opção por uma regra que já não estava em moda em Portugal e na Europa, face a uma nova espiritualidade e acção evangélica levada a cabo por franciscanos e dominicanos, talvez se deva à saturação destas ordens, fortemente implantadas em Santarém, e também ao prestígio de Cister e as ligações pessoais de Berengária com a Rainha Santa. Deste modo, o conjunto de bens e o prestígio criavam condições favoráveis para atrair elementos da nobreza local e até burguesas de Santarém e arredores que viam na entrada para aquele estabelecimento aumento do prestígio social para a sua família.
A nova hipótese de vida fora do século, especialmente se não tinham dote para o casamento libertador, a vida numa comunidade protectora e confortável e com estatuto acrescido eram os motivos que levavam as mulheres a sujeitarem-se a uma vida dura.
A mulher era vista como um paradigma do mal, a única forma de alcançar a purificação residia na adopção de um mundo de introspecção, calmo e ordenado por regras inflexíveis, num espaço intocável, austero e repressivo. A libertação das tentações da carne era conseguido através de um casamento espiritual, consumado pela oração e mortificação.
As monjas estavam sujeitas a uma clausura feroz - após 1220 nem no campo podiam trabalhar - e eram fiscalizadas por um mosteiro masculino; só os confessores, capelães, procuradores e o abade visitador podiam quebrar as prescrições. Existiam também “familiares”, ligados ao convento para o seu governo doméstico. A enfermaria do convento revestiu-se de especial importância e era objecto de novas doações.
Nascido e criado por elementos ligados à estrutura nobiliárquica local, o seu suporte assenta na exploração rural, numa zona especialmente fértil, e na possibilidade de excedentes nos mercados urbanos da produção, especialmente produtos hortícolas e cereal; de salientar a posse de unidades de transformação como lagares e moinhos hidráulicos. Domínio que, grosso modo se centrava no raio de um dia de viagem em torno do convento, um universo rural que condicionava a gestão e o crescimento do convento.
O convento era um recinto gótico que ao longo dos séculos sofreu enxertos e remodelações e cuja traça revela o habitual cânone das pequenas abadias cistercienses. A quase totalidade das dependências conventuais está destruída, todo o conjunto sofreu os efeitos do terramoto de 1755, o abandono, após a morte da última monja em 1887, a ocupação pela coudelaria nacional com o do recinto para cavalariças e um temporal em 1909 que provoca desabamentos e infiltrações. Subsiste em parte o claustro interior, a casa do capítulo e a igreja. O templo, que esteve muito arruinado, foi objecto de importantes obras de restauro. Trata-se de um bom exemplo de estilo gótico, de três naves, em que sobressai o pórtico principal, situado numa fachada lateral da igreja, a arrojada abóbada de cruzaria de ogivas sob a capela-mor e os arcos quebrados dos absidíolos. A grande remodelação dos fins do séc. XVI que criaram o amplo coro baixo reduziu a grandeza do corpo. De salientar ainda um Cristo crucificado, em madeira dos inícios da centúria de trezentos e o interior que está revestido de azulejos seiscentistas do tipo padrão, azuis e amarelos.
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A. Anacleto